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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Para que serve o professor ?

Hoje, Dia do Professor, vale a pena ler e reler este texto de Umberto Eco 

Ao ler a respeito de casos de violências nas escolas, deparei-me com uma esfera da
violência que não definiria precisamente como o máximo da impertinência... porém, sem
dúvida, de uma impertinência muito significativa. Era o relato de um estudante que, para
provocar seu professor, lhe disse:
---“ Desculpe-me, mas, na época da internet... você professor.... para que serve ?
O estudante disse uma meia verdade que , mesmo entre os próprios professores, é dita
há pelo menos vinte anos, qual seja a de que antigamente a escola transmitia formação e
também conteúdos, desde a tabuada nas séries iniciais, qual é a capital da Espanha nas
séries seguintes até os fatos da guerra dos trinta anos no ensino médio. Com o
surgimento, não apenas da internet, mas da televisão, do rádio, assim como do cinema,
grande parte destes conteúdos começaram a ser absorvidas pelas crianças na esfera
extra-escolar.
Quando era pequeno, meu pai não sabia que Hiroshima ficava no Japão, que
Guadalcanal existia, tinha uma idéia muito imprecisa de Dresde e somente sabia da Índia
o que havia lido am Salgari. Eu, que sou da época da guerra, aprendi essas coisas pelo
rádio, nas notícias diárias, enquanto que meus filhos viram na televisão os fiordes
noruegueses, o deserto de Gobi, como as abelhas polinizam as flores, como era um
tiranossauro rex e, hoje em dia, uma criança sabe tudo sobre o ozônio, sobre os Coalas,
sobre o Iraque e o Afeganistão. Talvez uma criança de hoje não saiba o que sejam
exatamente as células tronco, mas já ouviu falar disso enquanto que, em minha época,
nem mesmo a professora de ciências naturais sabia algo a este respeito. Então... para
que servem os professores hoje em dia ?


Eu disse que o estudante falava uma meia verdade porque, antes de tudo, todo docente
além de informar, deve formar. O que leva uma turma a ser uma boa classe não é que
sejam transmitidas datas e nomes, mas que se estabeleça um diálogo constante, um
confronto de opiniões, uma discussão sobre o que se aprende na escola e o que aprende
fora dela. É certo que o que acontece no Iraque é dito pela televisão. Porém, porque isso
acontece ali desde a época da civilização mesopotâmica e não no Alaska, é algo que só
pode ser dito na escola. E se alguém objetasse que, às vezes, também existem pessoas
que aprendem no “ Porta a Porta” ( programa televisivo italiano que discute temas da
atualidade), é a escola que deve discutir o “ Porta a Porta”.
Os meios de comunicação de massa informam sobre muitas coisas e também transmitem
valores, mas a escola deve saber discutir a maneira como estas informações são
transmitidas e avaliar o tom e a força da argumentação do que aparece em
jornais,revistas e televisão. Além disso, a escola deve verificar a informação veiculada
por estes meios. Por exemplo: quem, senão um professor, pode corrigir a pronúncia
errada do inglês que os alunos acreditam ter aprendido pela televisão ?
Aquele estudante não estava dizendo ao professor que já não necessitava dele porque
agora existem o rádio e a televisão para lhe dizerem onde fica a Groenlândia ou o que é
discutido sobre a fusão a frio. Ou seja, não estava lhe dizendo que seu papel era
questionado por discursos isolados que circulam de maneira casual e desordenada a
cada dia em diversos veículos de informação - que saibamos muito sobre o Iraque e
pouco sobre a Síria, depende da boa ou má vontade de Bush. O estudante estava
dizendo ao professor que hoje existe internet, a grande mãe de todas as enciclopédias,
onde se pode encontrar a Síria, a fusão a frio, a guerra dos trinta anos e a discussão
infinita sobre o maior dos números ímpares. Estava lhe dizendo que a informação que a
Internet coloca à sua disposição é imensamente maior e inclusive mais profunda do que
aquela de que dispõe o professor. E omitia um ponto importante: que a Internet lhe dá “
quase tudo”, exceto como pesquisar, filtrar, selecionar, aceitar ou descartar toda essa
informação.
Armazenar uma nova informação quando se tem boa memória, é algo de que todo mundo
é capaz. Porém, decidir o que é que vale ou não a pena relembrar, é uma arte sutil. Esta
é a diferença entre aqueles que cursaram estudos regulares( mesmo que mal) e os
autodidatas( mesmo que geniais).
O mais dramático é que , muitas vezes, nem mesmo o professor sabe ensinar a arte da
seleção. Ao menos, não em cada capítulo do saber. Porém, pelo menos sabe que deveria
sabê-lo e, se não sabe dar instruções precisas a respeito de como selecionar a
informação, pelo menos deve oferecer-se como exemplo mostrando ao aluno que se
esforça por comparar e julgar tudo aquilo que a Internet coloca à sua disposição. Pode
também colocar em cena , em seu cotidiano, a intenção de reorganizar sistematicamente
o que a Internet lhe transmite em ordem alfabética, dizendo-lhe que existe Tamerlão e
monocotiledoneas sem apresentar a relação sistemática entre estas duas noções.
O sentido desta relação somente pode ser oferecida pela escola e se esta não sabe
como fazê-lo, terá que equipar-se para tal. Se não, os três Is de Internet, Inglês e
Instrução continuarão sendo somente a primeira parte de um zurro de asno que não
ascende ao céu.

Umberto Eco
Tradução de Júlia Eugênia Gonçalves

quarta-feira, 30 de julho de 2014

6 filmes nacionais para serem trabalhados em sala de aula

Há cerca de um mês, a exibição mensal de filmes nacionais passou a ser obrigatória para as escolas da educação básica de todo o país. A determinação faz parte de uma nova regra que foi incluída na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Para ajudar os professores, o Porvir separou uma lista com algumas obras do cinema nacional que podem ser utilizadas na sala de aula.
As indicações foram apresentadas por Cláudia Mogadouro, pesquisadora do Núcleo de Comunicação e Educação da USP. Todos os filmes inseridos na lista tem materiais de apoio e planos de aula que foram publicados pela pesquisadora no site Net Educação.

1. Tainá 3 – A Origem (Rosane Svartman)
O filme da conta a história da personagem Tainá, uma indiazinha que vive na Amazônia e parte para uma aventura em busca da mágica flecha azul, enviada por Tupã. O desafio faz parte de uma competição entre os garotos da aldeia para definir quem será o novo guerreiro da tribo. Mesmo sendo impedida de participar por ser menina, ela conta com a ajuda do avô e parte em busca da flecha.
A história pode ser um ótimo gancho para os estudantes conhecerem mais sobre a região da Amazônia, aprenderem sobre a cultura indígena e refletirem sobre a diversidade cultural do país. Além disso, o filme também abre a possiblidade de trabalhar conteúdos de educação ambiental, contemplando discussões sobre o consumo consciente.
Classificação: livre
Público alvo: ensino fundamental
Duração: 80 minutos

2. À Beira do Caminho (Breno Silveira)
O caminhoneiro João decide cruzar o Brasil para fugir de traumas do passado. Durante sua viagem, ele conhece Duda, um garoto órfão de mãe que decidiu procurar o pai. Enquanto os dois viajam, a amizade entre eles cria força. Apesar do drama, Duda é um menino cheio de vida que ajuda João a superar o seu passado.
O filme pode ser utilizado pelos professores para discutir sobre diferentes processos de urbanização no país e as novas configurações da família brasileira. As músicas do cantor Roberto Carlos também são outros elementos que estão presentes durante toda a obra. As cenas podem ajudar a refletir sobre a música popular brasileira e as suas influências no cotidiano.
Classificação: 14 anos
Público alvo: ensino médio
Duração: 90 minutos

3. A Máquina (João Falcão)
Com um roteiro alegórico, o filme conta a história de Antônio, um rapaz que mora em uma cidade chamada Nordestina, tão pequena que nem consta no mapa. Aos poucos, os habitantes do local começam a deixar a cidade para partir em busca do mundo. Quando a jovem Karina, por quem ele é apaixonado, decide ir embora, Antônio resolve construir uma máquina do tempo para ir até o futuro e trazer o mundo até ela.
Entre as cenas, os alunos podem ter contato com diversas manifestações da cultura popular nordestina. A história ajuda a refletir sobre o conceito do tempo e a construção do futuro. Outra possibilidade de trabalho é discutir com os estudantes as perspectivas de trabalho para brasileiros que moram longe dos grandes centro urbanos.
Classificação: livre
Público alvo: ensino médio
Duração: 90 minutos

4. Janela da Alma (João Jardim/Walter Carvalho)
O documentário apresenta pessoas com diferentes graus de deficiência visual e trata a relação que elas têm com a visão e o olhar. Diversas celebridades como o prêmio Nobel José Saramago e o músico Hermeto Paschoal fazem revelações sobre o significado de não ver em um mundo com o excesso de informações audiovisuais.
A obra pode ser utilizada pelo professor para trabalhar temas como deficiência, visão e o excesso de informações audiovisuais. O documentário também pode traçar um paralelo com a mito da caverna de Platão.
Classificação: livre
Público alvo: ensino médio
Duração: 73 minutos

5. Uma História de Amor e Fúria (Luiz Bolognesi)
A animação conta a história de amor de um herói imortal e Janaína. Passando por épocas históricas do Brasil, como a exploração portuguesa, a escravidão e a ditadura militar, o filme vai apresentando a trajetória do casal que sobrevive por todas essas fases. Além disso, a obra também apresenta uma projeção de futuro do país em 2096.
Entre os assuntos que podem ser trabalhados com os estudantes, estão a colonização portuguesa e a história do Brasil sob o ponto de vista dos dominados. Além disso, também é possível projetar problemas e soluções para o futuro.
Classificação: 12 anos
Público alvo: ensino médio
Duração: 74 minutos

6. Capitães da Areia (Cecília Amado)
Adaptação da obra de Jorge Amado, o filme conta a história dos adolescentes que vivem pelas ruas de Salvador, sem que ninguém possa cuidar deles. Liderados por Pedro Bala, os jovens formam um grupo chamado Capitães da Areia e vivem os sonhos e pesadelos de adolescentes.
O filme pode ser utilizado para trabalhar a disciplina de literatura, fazendo um paralelo com o livro. Outra possiblidade é criar reflexões sobre a adolescência e os amores da juventude.
Classificação: 16 anos
Público alvo: ensino médio
Duração: 96 minutos

Fonte: Porvir

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Um pouquinho mais de Psicopedagogia

Organizando as pastas de meu PC, encontrei esta "pérola", escrita por uma aluna muito querida, que estudou comigo na UNINCOR, em Três Corações, MG.


Diga-me, psicopedagogo

Qual o teu foco?
A aprendizagem.
A tua crença?
A capacidade.
O teu sonho?
A autoria.
A tua força?
A fé.
O teu papel?
Cuidar do ser.
A tua música?
O amor.
A tua esperança?
Aplacar a dor.
O teu motivo?
Meu desejo.
A tua busca?
A verdade.
A tua arma?
A vontade.

Instrumentos?
Olhar e escutar.
O caminho?
Faz-se ao caminhar.
A estrada?
Por onde o coração levar.
O que querer enfim?
CRER,CRIAR,
BUSCAR,CRESCER,
APRENDER,SONHAR
SONHAE E SER...

                                                   Elaine Ribeiro Paulino

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O valor do pequeno


Saía eu da FAI- Centro de Ensino Superior em Gestão, Educação e Tecnologia- em Santa Rita do Sapucaí/MG, quando me deparei, na calçada, com esta minúscula árvore repleta de flores.
Havia trabalhado com a turma do curso de pós-graduação em Psicopedagogia as questões inerentes à intervenção psicopedagógica na instituição e pus-me a pensar neste tema pondo-o em relação com a árvore florida.
Veio a minha mente  o inusitado da situação biológica: arbusto tão minúsculo com uma florada tão intensa. Sei que o clima da cidade é propício ao cultivo de plantas, mas, mesmo assim, me surpreendeu. Pensei em como nossa sociedade valoriza o grande em prejuízo do pequeno, como se o tamanho tivesse relação com a qualidade. Não tem !
Comecei a articular este pensamento com os impactos que a intervenção psicopedagógica pode causar em pessoas e grupos e em como isso é valorizado também em relação ao seu tamanho. Será que temos condição de causar grandes impactos ? Será que a intervenção psicopedagógica busca a grandiosidade ou, como aquela árvore, consegue alcançar seu público causando surpresas pelo efeito que  produz, mesmo que seja em pequenas doses ?
Acredito que a segunda hipótese é a mais viável porque a intervenção psicopedagógica é comprometida com a eficácia de seus resultados e eficácia não tem relação com quantidade, com tamanho, mas com a forma como  impacta as pessoas, de maneira profunda.
Desta maneira, quando o psicopedagogo atua com um grupo, não lhe importa que consigue atingir a todos. Relevante se torna quando atinge substancialmente um ou outro. Isso porque as pessoas tocadas pelo trabalho psicopedagógico na instituição tornam-se agentes de mudança, pois cada ser que muda , torna-se exemplo de que a mudança é possível. 
A intervenção psicopedagógica é comprometida com a mudança, com o efeito que causa nas pessoas, mesmo que sejam poucas, assim como a natureza, por meio daquela pequena árvore, colocou à disposição de todos a beleza com que a revestiu. Será que alguém, além de mim, sentiu-se tocado por ela ? Não sei ! Só sei que se ela me tocou, a natureza cumpriu seu papel.


sexta-feira, 20 de junho de 2014

ALFABETIZAÇÃO PELO MÉTODO FÔNICO

Resolvi repetir esta postagem porque estou oferecendo um curso deste método de alfabetização e pensei que as pessoas interessadas gostariam de saber um pouco mais desta história.



A ALFABETIZAÇÃO EM MIM

O título desta postagem é uma brincadeira que  remete ao MIM - Método Iracema Meireles - do qual sou uma entusiasta há mais de 35 anos.
Vou contar esta história;
Era ainda bem  moça e já nutria o desejo de ajudar, de trabalhar na educação , de  contribuir para a melhora da qualidade do ensino oferecido às crianças. Por isso, junto com uma amiga de infância, Elyéte Tristão Ribeiro, tomei a iniciativa de abrir uma escola de educação infantil em Niterói, Rio de Janeiro, onde cresci: a " Escolinha da Minnie". Era o ano de 1973.
Em virtude deste envolvimento com a educação, fui instada a fazer um curso sobre um método de alfabetização, em Copacabana, sem saber o quanto aquela experiência seria significativa para mim.  O curso acontecia no Instituto Sylo  Meireles e a professora, Iracema Meireles, era a autora do referido método, que encantou-me imediatamente.  Tratava-se de uma situação inovadora, muito criativa. A profa. Iracema havia criado um método baseado numa história singular, que se passava num cenário bucólico ; " A casinha Feliz" !

Aprendi os fundamentos do método, comprei o material e passei a utilizá-lo nas classes de alfabetização da escolinha que dirigia. O maior sucesso !
Um belo dia, sem mais nem menos, recebi um telefonema da profa. Iracema. Ela me convidava para estudar mais com ela e para ajudá-la na re-estruturação do método direcionado para adultos, intitulado " É Tempo de Aprender". Até hoje não sei porque isso se deu, mas ela me dizia que tinha percebido que eu era curiosa e com vontade de aprender e que isso a atraíra. Elogio que não valorizei tanto quanto valorizo hoje !
Nossa amizade começou a se estreitar naqueles dias em que trabalhávamos em seu sítio em Campo Grande, região oeste do Rio de Janeiro , quando aprendi com ela, antes de qualquer coisa, a paixão pela alfabetização.
Pouco tempo mais tarde, nasceu minha primeira filha e Iracema me surpreende batendo à porta de meu apartamento, em Icaraí, para visitar a nenen  e me presentear com um objeto que, na época era a maior novidade: um despertador que tinha também um rádio. Ela me disse: você vai precisar acordar muitas vezes para dar de mamar a nenen e será melhor acordar com música.
Alguns anos mais tarde, precisamente em 1975, comecei o curso de mestrado em educação na U.F.F e minha dissertação só poderia tratar da alfabetização. escrevi sobre " O significado da Alfabetização na Criança", tendo como pano de fundo minha experiência com o MIM , na escolinha. Aprovada com grau máximo e recebendo elogios de Ana Maria Machado, a famosa escritora, que fizera parte da banca. Não compreendia, ainda, o significado de tudo aquilo.
Os anos se passaram, os filhos nasceram e passei a exercer a profissão de psicopedagoga, atuando em clínica multidisciplinar em Icaraí, acolhida por minha amiga Sueli Gomes Ribeiro. Sempre que trabalhava com uma criança com dificuldades de  leitura/escrita e percebia que haviam problemas na alfabetização, usava oMIM e os problemas  se resolviam, com o rostinho delas se iluminando a cada história que eu contava.
Depois de muitos anos, mudei-me para Varginha ( 1996) , onde instituí a Fundação Aprender. Comecei um trabalho de formação de professores, atuando principalmente com docentes da rede pública. Diante das dificuldades encontradas pelos professores em alfabetizar seus alunos, passei a ensiná-los a usar o MIM.Naquela ocasião a internet iniciava esta beleza que é aproximar pessoas e, por seu intermédio pude encontrar o Sylo, filho da profa. Iracema, que havia retornado do exterior e  se dedicava e pesquisar sobre alfabetização e a resgatar a obra de sua mãe. Infelizmente , ele veio a falecer alguns anos depois. Fiz contato com sua irmã, Eloisa, que prossegue à frente desta empreitada. Ela ratificou documento que a profa. Iracema havia me dado, atestando minha capacidade para ministrar cursos do MIM.
Aí começou efetivamente o trabalho que, no passado, não vislumbrara: capacitar professores no método,  usando o material da " Casinha Feliz" e  participar da capacitação de alfabetizadores do Programa Brasil Alfabetizado, do governo federal, usando o material do " É Tempo de Aprender ".
MIM, de base fonética, lúdico e criativo, hoje é aplicado em cinco municípios do sul de Minas, graças à ação da Fundação Aprender, melhorando os resultados da aprendizagem das crianças das redes públicas e os índices do IDEB: Monsenhor Paulo, Carmo da Cahoeira, Estiva, Tocos do Moji, Bom Repouso. Com ele, o sonho da juventude se completou e a esperança da profa. Iracema se concretizou.

Professora Iracema Meireles, autora do MIM- Método Iracema Meireles - alfabetização de crianças , jovens e adultos, pelo processo fônico, utilizando a consciência fonológica como ponto de partida para a aprendizagem da leitura e escrita, com muito sucesso, desde a década de 70.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Provas Projetivas no Diagnóstico Psicopedagógico

           
 As provas projetivas são utilizadas no contexto psicopedagógico como um meio de análise e depuração do sistema de hipóteses e devem ser aplicadas quando há suspeita de implicações emocionais ou vínculos negativos com a aprendizagem.
              Quando se aplica uma prova projetiva o sujeito projeta para fora de si o que se recusa a reconhecer em si mesmo ou o ser em si.
             Segundo Piaget “por meio do jogo simbólico, a criança do período pré-operatório assimila o real ao eu e consegue com este artifício suportar sua vivências pessoais e familiares, seus conflitos e problemas”.
                Através das provas projetivas pretende-se que haja a manifestação do inconsciente, sem medos e/ou repressões. Aparecem aqui, através de estímulo, manifestações inconscientes com marcas deixadas pelas vivências dos sujeitos.
           Ao se aplicar as provas projetivas o terapeuta deve ter a clareza de que elas expressam uma realidade subjetiva relacionada com a vivência particular do indivíduo. Não se trata da  realidade como ela é e sim a realidade que o sujeito vê.  As provas projetivas devem ser adaptadas ao tipo de investigação que se pretende realizar e a especificidade do indivíduo.
              As provas projetivas psicopedagógicas foram organizadas pelo professor Jorge Visca e, segundo ele, são recursos, dentre outros, para a compreensão de variáveis emocionais que condicionam, de forma positiva ou negativa a aprendizagem.
              O objetivo de se utilizar uma prova projetiva psicopedagógica é verificar as significações do ato de aprender e as relações vinculares que se formam com o conhecimento e as figuras ensinantes.
            Os testes projetivos pedagógicos mais utilizados são:
            1 – Alegorias animais: tem por objetivo associar os recursos simbólicos oferecidos pelo animal com os modos de expressão dramática da narração, provocando uma visão fantasmática das relações familiares com projeção das angustias e dos desejos inconscientes e detectar os elementos que, no imaginário do examinado que vive determinada situação familiar, filtram e orientam, por sua ação simbólica, seja as percepções, seja as ações, seu modo de adaptação ao ambiente familiar.O teste é composto de 3 momentos de intervenção. Essas intervenções fazem relações entre os animais e as pessoas da família do examinado, por meio de desenhos e diálogos. A avaliação desse teste é qualitativa e devem ser seguidos indicadores para auxiliar a análise.
        2 – Par educativo: tem por objetivo investigar o vínculo do examinado com a aprendizagem. Neste teste pede-se que o examinado desenhe duas pessoas, uma que ensina e outra que aprende, que indique o nome de cada pessoa e a idade de cada um e ,por fim ,pede-se que dê um título ao desenho e que escreva o que está acontecendo .  A partir do desenho investiga-se a relação do indivíduo com os objetos de aprendizagem, com quem ensina e do próprio aprendente consigo mesmo, na situação de aprendizagem. Cada uma dessas situações e a relação entre todas elas nos permitem analisar o tipo de vínculo, o significado dado à aprendizagem, os fatores cognitivos e afetivos que estão em jogo, as identificações do sujeito, a representação do ensinante como facilitador ou perseguidor (como é caracterizado), os sentimentos frente à sua própria capacidade, o grau de tolerância à frustração etc.
              Para aplicar os testes projetivos psicopedagógicos é necessário que o profissional tenha conhecimento sobre vínculos, para que possa analisar com segurança  os resultados obtidos.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O bullying e a Psicopedagogia




O Termo bullying

O Brasil, assim como outros países, apropria-se de palavras de determinada língua porque lhe faltam vocábulos para exprimir aquela ideia, por uma questão de modismo ou influência cultural. A este fenômeno se denomina estrangeirismo, processo que introduz palavras vindas de outros idiomas na língua. O estrangeirismo possui duas categorias: Com aportuguesamento: a grafia e a pronúncia da palavra são adaptadas para o português. Exemplo: abajur (do francês "abat-jour") Sem aportuguesamento: conserva-se a forma original da palavra. Exemplo: mouse (do inglês "mouse")
Hoje em dia, em face da posição dos EUA no cenário internacional e também pelo fato de a língua inglesa ter se tornado um “idioma universal”, assim como o fora o latim durante o império romano, usamos frequentemente palavras de origem inglesa com estrangeirismo sem aportuguesamento. Uma delas é a palavra bulllying, de origem inglesa, que expressa o comportamento pelo qual uma pessoa amedronta outra, lhe causa dor, ferimento, constrangimento, ou outros sofrimentos no plano físico ou emocional. Este fenômeno, nas relações humanas, não é novo. Portanto, o bullying não é novidade histórica. Assim, seria surpreendente se a língua portuguesa não tivesse palavras próprias para descrevê-lo. E as tem! Surpreendentemente mesmo é o desconhecimento delas, conforme revelado pelo amplo uso do termo bulllying, inclusive no meio educacional.
A palavra portuguesa para bullying é “bulir”, muito usada anos atrás, quando em casa, na escola e na rua alguém dizia "fulano buliu comigo”. O dicionário Houaiss apresenta como significados de bulir, que não consta como regionalismo: Mexer com; tocar; causar incômodo ou apoquentar; produzir apreensão em alguém; fazer caçoada; zombar e falar sobre outras pessoas. O mesmo dicionário tem também o termo bulimento e bulidor, ou seja, temos palavras para designar tanto o sujeito (bully), como o verbo (to bully) e o ato decorrente (bullying).
No nordeste do país a palavra bulir tem também o significado de tirar a virgindade, adquirindo uma conotação sexual. Talvez esta conotação da palavra “bulir” tenha influenciado na preferência pelo termo bulllying, que já se tornou comum entre nós.
Agora que já compreendemos o significado e porque utilizamos a palavra Bullying em inglês para expressarmos nossas ideias, convém analisarmos como o ato é justificado pelos autores que a ele se dedicam.
Alguns autores atribuem a crescente onda de violência, que caracteriza o Bullying, à programação da TV, considerando que:
·         Há uma ligação óbvia entre a ocorrência de violência na sociedade e a tematização e representação da mesma nas mídias;
·         A Televisão vende progressivamente a ideia de que a violência é aceitável, torna-a trivial, lugar comum, de todos os dias, mundana. Faz parte da vida, é normal. É parte da nossa cultura moderna;
·         A Televisão também ensina algo ainda mais corruptível – que a inteligência está fora de moda e que a força bruta é que convence. A moralidade está ultrapassada. Os polícias são estúpidos e os criminosos é que são os espertos. Há uma selva lá fora, envolvendo homens, mulheres e crianças e, no entanto, está tudo bem;
Vivemos, infelizmente, numa era de crimes progressivos de violência contra pessoas e propriedades, violência nos jogos de futebol, vandalismo social.

Bullying nas Escolas

O ambiente no qual o bullying tem sido mais discutido é o espaço escolar. Crianças e adolescentes isolam, insultam, agridem colegas e expõem uma realidade alarmante: pais e colégios não sabem como lidar com agressões que começam cada vez mais cedo.  Este tipo de conduta por parte de alguns alunos pode ser comum no dia-a-dia escolar, mas está longe de ser considerado aceitável, porque gera angústia, sofrimento e pode causar danos psicológicos imensuráveis nas vítimas.
O comportamento agressivo costumava aparecer na adolescência, mas agora é detectado entre crianças cada vez mais novas, o que tem preocupado as autoridades educacionais e as famílias.
O maior problema acarretado pelo bullying é o estresse, que afeta diretamente o ato de aprender e a capacidade de assimilação do conteúdo ensinado, conforme apontam estudos das neurociências.

Como a Psicopedagogia encara o bullying
Sendo o bullying um comportamento observável em crianças e adolescentes em seus grupos de convivência, pode ser considerado um vínculo patológico. Neste caso, o praticante e aquele que sofre o bullying estão vinculados de uma maneira particular, por motivos que devem pertencer ao mundo interno de cada um.
O psicopedagogo trabalha com aprendizagem e o bullying é uma conduta que interfere negativamente neste processo, por isso é necessário que os estudos a respeito dos vínculos na aprendizagem sejam aprofundados por este profissional em seu processo de educação continuada.
Importante também que o psicopedagogo exercite a capacidade de ouvir as crianças e adolescentes. Uma boa escuta é capaz de apreender nas entrelinhas algo que não é dito de maneira explícita.
Quando atua no âmbito institucional o papel do psicopedagogo na discussão e elaboração de normas de conduta escolar, projetos contra a prática do bulllying e conscientização de professores e familiares a respeito deste assunto, caracterizam o aspecto preventivo de sua atuação.
Quando atua na clínica o psicopedagogo age sobre os vínculos, abrindo espaços para que seu atendido possa ressignificá- los, saindo do lugar patológico de agressor ou de vítima em que possa estar.
Numa ou noutra situação o psicopedagogo precisa estar atento para o que acontece à sua volta e pronto para contribuir no sentido de produzir mudanças nas pessoas, com repercussões na sociedade.

Referências Bibliográficas:
BEANE, Allan L. Proteja Seu Filho do Bullying. São Paulo: Editora Best Sellers, 2008.
PEREIRA, Sônia Maria de Souza. Bullying e Suas Implicações no Ambiente Escolar. São Paulo: Ed. Paulus, 2009.
ABRAPIA (Associação Brasileira de proteção à Infância e Adolescência) (2006). Programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes [online]. Disponível: http://www.bullying.com.br/Bconceituacao21.htm  (2007, Fevereiro, 19]




segunda-feira, 26 de maio de 2014

Quanto tempo o tempo tem. “

EXISTE UM TEMPO PARA O TRABALHO PSICOPEDAGÓGICO ?

“O tempo perguntou ao tempo, quanto tempo o tempo tem.
O tempo, respondeu ao tempo, que o tempo tem tanto tempo,



                                             
                                         A preocupação com o tempo é uma constante em nossos dias, visto que vivemos numa época em que as mudanças se dão de forma muito acelerada. Tudo é muito rápido, como as comunicações, as transações bancárias, os transportes ...
                                 No campo dos conhecimentos científicos assistimos à substituição de conceitos antigos por novos, teorias são trocadas  muito rapidamente porque se tornam obsoletas diante de novas descobertas, que, por sua vez, precipitam novas pesquisas e assim sucessivamente.
                                    Nossa vida não fica imune a tais circunstâncias. As  crianças estão perdendo a infância muito cedo; a adolescência parece querer prolongar-se numa tentativa de permanência, a maturidade tem que ser vivida em plenitude e a velhice, evitada de todas as formas.
                                    Em relação à aprendizagem, cada vez mais nos damos conta de que somos seres “aprendentes”, ou seja, só sobrevivemos porque aprendemos continuamente e podemos nos adaptar às novas situações que se apresentam diante de nós. A escolaridade tem começado desde as creches, e existe já uma  proposta de  sua ampliação, com o ingresso no 1º grau sendo antecipado para a idade de 06 anos.
                                   Ao mesmo tempo em que tudo isto se dá,  nos damos conta de que existe um universo significativo de sujeitos com dificuldades de aprendizagem ! O fracasso escolar ainda é um fantasma que ronda lares e escolas. Apesar de progressos tão rápidos e mudanças tão significativas, ainda não conseguimos resolver problemas tão antigos !
                                   Assim é o tempo !  Fruto de uma ilusão, de um “movimento” inperceptível, foge sempre ao nosso controle. Pode ser medido, mas não pode ser quantificado ou qualificado por si só .  Isto depende de nós. Se estamos interessados e desfrutando das ações que realizamos,  ele passa rapidamente; caso contrário, um minuto pode durar uma eternidade.
                                  O mesmo ocorre no trabalho psicopedagógico. Muitas vezes, uma conversa, uma única intervenção, é suficiente para promover mudanças. Em outras situações,  meses e anos  de trabalho são necessários para transformações significativas.
                                  Por isso, não devemos, num sentimento de onipotência, tentar controlar o tempo. O  melhor é deixar que ele transcorra, tomando cuidado para que as pressões externas ,  provenientes  da família ou da escola não venham a  comprometer nossa atuação.
                                  A Psicopedagogia não pode depender exclusivamente de resultados ! Eles virão, com certeza, quanto mais habilidade  tiver o psicopedagogo  para criar um espaço onde o “brincar” e o  “aprender”  aconteçam , quanto mais envolvidas no trabalho educativo estiverem a escola e a família e isto não pode ficar restrito a uma determinação de tempo.
                                    

                                                                   Júlia Eugênia Gonçalves

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Professores, acordem!


Reflexão de Gustavo Ioschpe  na Revista Veja - 11/05/2014 - São Paulo, SP.
Texto objetivo e contundente !


Normalmente escrevo esta coluna pensando nos leitores que nada têm a ver com o setor educacional. Faço isso, em primeiro lugar, porque creio que a educação brasileira só vai avançar (e com ela o Brasil) quando houver demanda pública por melhorias. E, segundo, porque nos últimos anos tenho chegado à conclusão de que falar com o professor médio brasileiro, na esperança de trazer algum conhecimento que o leve a melhorar seu desempenho, é mais inútil do que o proverbial pente para careca. Não deve haver, nos 510 milhões de quilômetros quadrados deste nosso planeta solitário, um grupo mais obstinado em ignorar a realidade que o dos professores brasileiros. O discurso é sempre o mesmo: o professor é um herói, um sacerdote abnegado da construção de um mundo melhor, mal pago, desvalorizado, abandonado pela sociedade e pelos governantes, que faz o melhor possível com o pouco que recebe. Hoje faço minha última tentativa de falar aos nossos mestres. E, dado o grau de autoengano em que vivem, eu o farei sem firulas.
Caros professores: vocês se meteram em uma enrascada. Há décadas, as lideranças de vocês vêm construindo um discurso de vitimização. A imagem que vocês vendem não é a de profissionais competentes e comprometidos, mas a de coitadinhos, estropiados e maltratados. E vocês venceram: a população brasileira está do seu lado, comprou essa imagem (nada seduz mais a alma brasileira do que um coitado, afinal). Quando vocês fazem greve — mesmo a mais disparatada e interminável —, os pais de alunos não ficam bravos por pagar impostos a profissionais que deixam seus filhos na mão; pelo contrário, apoiam a causa de vocês. É uma vitória quase inacreditável. Mas prestem atenção: essa é uma vitória de Pirro. Porque nos últimos anos essa imagem de desalento fez com que aumentassem muito os recursos que vão para vocês, sem a exigência de alguma contrapartida da sua parte. Recentemente destinamos os royalties do pré-sal a vocês, e, em breve, quando o Plano Nacional de Educação que transita no Congresso for aprovado, seremos o único país do mundo, exceto Cuba, em que se gastam 10% do PIB em educação (aos filocubanos, saibam que o salário de um professor lá é de aproximadamente 28 dólares por mês. Isso mesmo, 28 dólares. Os 10% cubanos se devem à falta de PIB, não a um volume de investimento significativo).

Quando um custo é pequeno, ninguém se importa muito com o resultado. Quando as coisas vão bem, ninguém fica muito preocupado em cortar despesas. E, quando a área é de pouca importância, a pressão pelo desempenho é pequena. No passado recente, tudo isso era verdade sobre a educação brasileira. Éramos um país agrícola em um mundo industrial; a qualificação de nossa gente não era um elemento indispensável e o país crescia bem. Mas isso mudou. O tempo das vacas gordas já era, e a educação passou a ser prioridade inadiável na era do conhecimento. Nesse cenário, a chance de que se continue atirando dinheiro no sistema educacional sem haver nenhuma melhora, a longo prazo, é zero.

Vocês foram gananciosos demais. Os 10% do PIB e os royalties do pré-sal serão a danação de vocês. Porque, quando essa enxurrada de dinheiro começar a entrar e nossa educação continuar um desastre, até os pais de alunos de escola pública vão entender o que hoje só os estudiosos da área sabem: que não há relação entre valor investido em educação — entre eles o salário de professor — e o aprendizado dos alunos. Aí esses pais, e a mídia, vão finalmente querer entrar nas escolas para entender como é possível investirmos tanto e colhermos tão pouco. Vão descobrir que a escola brasileira é uma farsa, um depósito de crianças. Verão a quantidade abismal de professores que faltam ao trabalho, que não prescrevem nem corrigem dever de casa, que passam o tempo de aula lendo jornal ou em rede social ou, no melhor dos casos, enchendo o quadro-negro de conteúdo para aluno copiar, como se isso fosse aula. E então vocês serão cobrados. Muito cobrados. Mas, como terão passado décadas apenas pedindo mais, em vez de buscar qualificação, não conseguirão entregar.

Quando isso acontecer, não esperem a ajuda dos atuais defensores de vocês, como políticos de esquerda, dirigentes de ONGs da área e alguns “intelectuais”. Sei que em declarações públicas esse pessoal faz juras de amor a vocês. Mas, quando as luzes se apagam e as câmeras param de filmar, eles dizem cobras e lagartos.

Existem muitas coisas que vocês precisarão fazer, na prática, para melhorar a qualidade do ensino, e sobre elas já discorri em alguns livros e artigos aqui. Antes delas, seria bom começarem a remover as barreiras mentais que geram um discurso ilógico e atravancam o progresso. Primeira: se vocês são vítimas que não têm culpa de nada, também não poderão ser os protagonistas que terão responsabilidade pelo sucesso. Se são objetos do processo quando ele dá errado, não poderão ser sujeitos quando ele começar a dar certo. Se vocês querem ser importantes na vitória, precisam assimilar o seu papel na derrota.

Segunda: vocês não podem menosprezar a ciência e os achados da literatura empírica sempre que, como na questão dos salários, eles forem contrários aos interesses de vocês. Ou vocês acreditam em ciência, ou não acreditam. E, se não acreditam — se o que vale é experiência pessoal ou achismo —, então vocês são absolutamente dispensáveis, e podemos escolher na rua qualquer pessoa dotada de bom-senso para cuidar da nossa educação. Vocês são os guardiães e retransmissores do c acumulado ao longo da história da humanidade. Menosprezar ou relativizar esse conhecimento é cavar a própria cova.

Terceira: parem de vedar a participação de terceiros no debate educacional. É  inconsistente com o que vocês mesmos dizem: que o problema da educação brasileira é de falta de envolvimento da sociedade. Quando a sociedade quer participar, vocês precisam encorajá-la, não dizer que só quem vive a rotina de “cuspe e giz” é que pode opinar. Até porque, se cada área só puder ser discutida por quem a pratica, vocês terão de deixar a determinação de salários e investimentos nas mãos de economistas. Acho que não gostarão do resultado...

Quarta: abandonem essa obsessão por salários. Ela está impedindo que vocês vejam todos os outros problemas — seus e dos outros. O discurso sobre salários é inconsistente. Se o aumento de salário melhorar o desempenho, significa que ou vocês estavam desmotivados (o que não casa com o discurso de abnegados tirando leite de pedra) ou que é preciso atrair pessoas de outro perfil para a profissão (o que equivale a dizer que vocês são inúteis irrecuperáveis).

O respeito da sociedade não virá quando vocês tiverem um contracheque mais gordo. Virá se vocês começarem a notar suas próprias carências e lutarem para saná-las, dando ao país o que esperamos de vocês: educação de qualidade para nossos filhos.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Metade dos adultos de países ricos tem nível básico de compreensão de leitura



Mesmo entre a população dos países mais ricos do mundo, ainda há uma parcela considerável de adultos que não é capaz de ler e compreender textos mais complexos e que exijam boa interpretação de textos. Em uma avaliação aplicada a adultos com idade entre 16 e 65 anos em 24 países participantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 48,8% estão nos níveis mais básicos de aptidão de leitura.
O Programa de Avaliação Internacional das Competências dos Adultos (PIAAC) foi criado pela OCDE para avaliar os conhecimentos da população adulta, já que tradicionalmente crianças e jovens dos países participantes têm sua formação educacional avaliada. A proposta agora é saber se a força de trabalho dessas nações possui competências exigidas pelo mundo tecnológico atual. A avaliação foi aplicada entre 2011 e 2012.
O letramento (leitura e escrita), a aptidão matemática e a capacidade de resolução de problemas são os temas escolhidos para a avaliação. Para os organizadores do estudo, os resultados – apresentados em seminário na capital brasiliense nessa terça – ligam o sinal de alerta dos governantes desses países e despertam a curiosidade para conhecer a realidade de outros países em desenvolvimento.
“A avaliação nos mostra como a distribuição das competências entre a população influencia os resultados econômicos e sociais. São competências-chave para processar informação, exigidas para a plena integração e participação no mercado de trabalho, na educação, na vida social. Em uma economia globalizada, as comparações entre países são fundamentais para os governos”, afirma Marta Encinas-Martin, responsável pela avaliação.

Leitura e escrita
Marta ressalta que 8,5 milhões de pessoas estão nos níveis mais baixos de proficiência em leitura (níveis -1 e 1) da avaliação. No nível 1, os adultos são capazes de preencher formulários simples, entender vocabulário básico, determinar o significado de frases e ler textos curtos. No geral, 12,2% dos adultos está nesse nível, mas há diferenças entre os países. Na Itália, por exemplo, o número sobe para 22,2% e na Espanha, 20,3%. No Japão, o número cai para 4,3%.
Há outros 3,3% abaixo desse nível (no -1). Eles leem textos curtos sobre tópicos conhecidos e conseguem localizar informação sem precisar entender a estrutura de frases ou parágrafos, só com vocabulário básico. Essas pessoas alcançaram menos de 176 pontos na avaliação, que varia de 0 a 500 pontos. Os resultados foram divididos em seis níveis: -1 (abaixo de 176); 1 (de 176 a 226); 2 (de 226 a 276); 3 (de 276 a 326); 4 (de 326 a 376) e 5 (acima de 376).
A Espanha é o país com maior proporção de adultos abaixo do nível 1 (7,2%), seguida da Itália (5,5%), França (5,3%) e Irlanda (4,3%). O Japão é o que tem menor proporção de adultos nesse nível (0,6%), seguido da República Tcheca (1,5%), Eslováquia (1,9%) e Estônia (2%). No nível 2, ainda considerado de compreensão básica, estão 33,3% dos adultos. Sendo a Itália e a Espanha os mais numerosos nessa faixa de aptidão (42% e 39,1%, respectivamente).
Por outro lado, menos de 1% do total atinge o nível máximo do teste, que é o mais alto nível de proficiência no teste. Esses adultos são capazes de pesquisar, integrar informações de textos densos, fazer comparações, avaliar confiabilidade de informações. A Finlândia tem a proporção mais alta de adultos nesse nível: 2,2%.
Matemática e tecnologias
“Se uma grande proporção de adultos tem formação escassa em leitura e matemática, abaixo do nível 2, a introdução e a disseminação de tecnologias que melhoram a produtividade e as práticas de organização do trabalho podem ser prejudicadas”, ressalta Marta. A coordenadora do estudo aponta que, em todos os países avaliados, há entre 8,1% e 31,7% da população nos níveis mais baixos de competência matemática.
Do total, 20% dos adultos estão no nível 1 ou abaixo em competência matemática. Isso significa que eles só conseguem lidar com tarefas simples, que exigem operações básicas. Japão e Finlândia são dois dos destaques, tanto em pequena proporção de adultos entre os níveis mais baixos quanto entre os com maior parte de adultos em níveis mais altos. O estudo mostra que a relação entre aptidão em leitura e em matemática estão muito relacionadas.
Em quase todos os países, pelo menos 10% dos adultos não têm noções básicas de informática. Na maioria deles, uma parcela significativa dos adultos encontra dificuldades para usar tecnologias digitais, ferramentas e redes de comunicação para adquirir e avaliar informações, comunicar-se com outras pessoas e executar tarefas práticas.
Somente entre 2,9% e 8,8% dos adultos desses países demostraram maior nível de proficiência na escala de avaliação desse quesito, que varia de abaixo de 1 a 3, e dominam as tecnologias. Além disso, 4,9% dos participantes foram reprovados no teste básico de tecnologias de informação e comunicação (TIC) e 10,2% optaram por não fazer a avaliação em meio digital. Do total, 12,3% dos adultos só conseguem fazer tarefas básicas em um único e conhecido ambiente tecnológico em poucas etapas.
Desigualdades e perdas
As desigualdades dos resultados, segundo a coordenadora do estudo, são mais numerosas dentro dos próprios países do que entre eles. As discrepâncias nos resultados das competências estão proporcionalmente ligadas à distribuição de renda. Os imigrantes de línguas estrangeiras apresentaram proficiência menor em todos os quesitos também.
Os homens têm, de modo geral, pontuação pouco mais alta que as mulheres em matemática e em solução de problemas em ambientes tecnológicos. Entre os adultos jovens, a diferença de rendimento entre gêneros é insignificante.
A educação formal tem uma forte ligação positiva com a proficiência. Adultos com qualificação universitária têm vantagem de, em média, 36 pontos na escala de letramento em relação aos que não concluíram o ensino médio. Os adultos que possuem as maiores pontuações no teste de letramento têm três vezes mais chances de terem salários mais altos, 2,2 vezes mais chances de estarem empregados e o dobro de chances de ter boa saúde do que os indivíduos com pontuação igual ou inferior ao nível 1 em letramento.
Os resultados podem dar subsídios para mudanças políticas nos países. Esse é o objetivo”, destaca Marta.
O teste
A avaliação foi aplicada a 166 mil adultos, que representam 724 milhões de pessoas de 16 a 65 anos dos países participantes, em suas próprias residências. Além do teste, os adultos responderam a um questionário, com informações educacionais, de trabalho e contexto social. Em setembro, uma nova rodada de avaliação terá início e contará com a participação do México, Colômbia, Argentina (Buenos Aires) e Chile.
Eles se unirão aos membros da OCDE (Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica (Flandres), Canadá, Coreia, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Japão, Noruega, Países Baixos, Polônia, República Tcheca, Reino Unido (Inglaterra e Irlanda do Norte), Suécia) e dois países parceiros (Chipre e Federação Russa).
O Ministério da Educação ainda estuda as vantagens e a viabilidade de aplicação da prova no Brasil.
FONTE IG  - 03/05/2014 - SÃO PAULO, SP


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