Mesmo entre a
população dos países mais ricos do mundo, ainda há uma parcela considerável de
adultos que não é capaz de ler e compreender textos mais complexos e que exijam
boa interpretação de textos. Em uma avaliação aplicada a adultos com idade
entre 16 e 65 anos em 24 países participantes da Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 48,8% estão nos níveis mais básicos de
aptidão de leitura.
O Programa de
Avaliação Internacional das Competências dos Adultos (PIAAC) foi criado pela
OCDE para avaliar os conhecimentos da população adulta, já que tradicionalmente
crianças e jovens dos países participantes têm sua formação educacional
avaliada. A proposta agora é saber se a força de trabalho dessas nações possui
competências exigidas pelo mundo tecnológico atual. A avaliação foi aplicada
entre 2011 e 2012.
O letramento
(leitura e escrita), a aptidão matemática e a capacidade de resolução de
problemas são os temas escolhidos para a avaliação. Para os organizadores do
estudo, os resultados – apresentados em seminário na capital brasiliense nessa
terça – ligam o sinal de alerta dos governantes desses países e despertam a
curiosidade para conhecer a realidade de outros países em desenvolvimento.
“A avaliação nos
mostra como a distribuição das competências entre a população influencia os
resultados econômicos e sociais. São competências-chave para processar
informação, exigidas para a plena integração e participação no mercado de
trabalho, na educação, na vida social. Em uma economia globalizada, as
comparações entre países são fundamentais para os governos”, afirma Marta
Encinas-Martin, responsável pela avaliação.
Leitura e escrita
Marta ressalta que
8,5 milhões de pessoas estão nos níveis mais baixos de proficiência em leitura
(níveis -1 e 1) da avaliação. No nível 1, os adultos são capazes de preencher
formulários simples, entender vocabulário básico, determinar o significado de
frases e ler textos curtos. No geral, 12,2% dos adultos está nesse nível, mas
há diferenças entre os países. Na Itália, por exemplo, o número sobe para 22,2%
e na Espanha, 20,3%. No Japão, o número cai para 4,3%.
Há outros 3,3%
abaixo desse nível (no -1). Eles leem textos curtos sobre tópicos conhecidos e
conseguem localizar informação sem precisar entender a estrutura de frases ou
parágrafos, só com vocabulário básico. Essas pessoas alcançaram menos de 176
pontos na avaliação, que varia de 0 a 500 pontos. Os resultados foram divididos
em seis níveis: -1 (abaixo de 176); 1 (de 176 a 226); 2 (de 226 a 276); 3 (de
276 a 326); 4 (de 326 a 376) e 5 (acima de 376).
A Espanha é o país
com maior proporção de adultos abaixo do nível 1 (7,2%), seguida da Itália
(5,5%), França (5,3%) e Irlanda (4,3%). O Japão é o que tem menor proporção de
adultos nesse nível (0,6%), seguido da República Tcheca (1,5%), Eslováquia
(1,9%) e Estônia (2%). No nível 2, ainda considerado de compreensão básica,
estão 33,3% dos adultos. Sendo a Itália e a Espanha os mais numerosos nessa
faixa de aptidão (42% e 39,1%, respectivamente).
Por outro lado,
menos de 1% do total atinge o nível máximo do teste, que é o mais alto nível de
proficiência no teste. Esses adultos são capazes de pesquisar, integrar
informações de textos densos, fazer comparações, avaliar confiabilidade de
informações. A Finlândia tem a proporção mais alta de adultos nesse nível:
2,2%.
Matemática e
tecnologias
“Se uma grande
proporção de adultos tem formação escassa em leitura e matemática, abaixo do
nível 2, a introdução e a disseminação de tecnologias que melhoram a
produtividade e as práticas de organização do trabalho podem ser prejudicadas”,
ressalta Marta. A coordenadora do estudo aponta que, em todos os países
avaliados, há entre 8,1% e 31,7% da população nos níveis mais baixos de
competência matemática.
Do total, 20% dos
adultos estão no nível 1 ou abaixo em competência matemática. Isso significa
que eles só conseguem lidar com tarefas simples, que exigem operações básicas.
Japão e Finlândia são dois dos destaques, tanto em pequena proporção de adultos
entre os níveis mais baixos quanto entre os com maior parte de adultos em
níveis mais altos. O estudo mostra que a relação entre aptidão em leitura e em
matemática estão muito relacionadas.
Em quase todos os
países, pelo menos 10% dos adultos não têm noções básicas de informática. Na
maioria deles, uma parcela significativa dos adultos encontra dificuldades para
usar tecnologias digitais, ferramentas e redes de comunicação para adquirir e
avaliar informações, comunicar-se com outras pessoas e executar tarefas
práticas.
Somente entre 2,9%
e 8,8% dos adultos desses países demostraram maior nível de proficiência na
escala de avaliação desse quesito, que varia de abaixo de 1 a 3, e dominam as
tecnologias. Além disso, 4,9% dos participantes foram reprovados no teste
básico de tecnologias de informação e comunicação (TIC) e 10,2% optaram por não
fazer a avaliação em meio digital. Do total, 12,3% dos adultos só conseguem
fazer tarefas básicas em um único e conhecido ambiente tecnológico em poucas
etapas.
Desigualdades e
perdas
As desigualdades
dos resultados, segundo a coordenadora do estudo, são mais numerosas dentro dos
próprios países do que entre eles. As discrepâncias nos resultados das
competências estão proporcionalmente ligadas à distribuição de renda. Os
imigrantes de línguas estrangeiras apresentaram proficiência menor em todos os
quesitos também.
Os homens têm, de
modo geral, pontuação pouco mais alta que as mulheres em matemática e em
solução de problemas em ambientes tecnológicos. Entre os adultos jovens, a
diferença de rendimento entre gêneros é insignificante.
A educação formal
tem uma forte ligação positiva com a proficiência. Adultos com qualificação
universitária têm vantagem de, em média, 36 pontos na escala de letramento em
relação aos que não concluíram o ensino médio. Os adultos que possuem as
maiores pontuações no teste de letramento têm três vezes mais chances de terem
salários mais altos, 2,2 vezes mais chances de estarem empregados e o dobro de
chances de ter boa saúde do que os indivíduos com pontuação igual ou inferior
ao nível 1 em letramento.
“Os resultados
podem dar subsídios para mudanças políticas nos países. Esse é o objetivo”,
destaca Marta.
O teste
A avaliação foi
aplicada a 166 mil adultos, que representam 724 milhões de pessoas de 16 a 65
anos dos países participantes, em suas próprias residências. Além do teste, os
adultos responderam a um questionário, com informações educacionais, de
trabalho e contexto social. Em setembro, uma nova rodada de avaliação terá
início e contará com a participação do México, Colômbia, Argentina (Buenos
Aires) e Chile.
Eles se unirão aos
membros da OCDE (Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica (Flandres), Canadá,
Coreia, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia,
França, Irlanda, Itália, Japão, Noruega, Países Baixos, Polônia, República
Tcheca, Reino Unido (Inglaterra e Irlanda do Norte), Suécia) e dois países
parceiros (Chipre e Federação Russa).
O Ministério da
Educação ainda estuda as vantagens e a viabilidade de aplicação da prova no
Brasil.
FONTE IG - 03/05/2014 - SÃO PAULO, SP
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