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quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Um cenário ideal e um cenário possível no marco de uma prospectiva pedagógica da EAD

Júlia Eugênia Gonçalves


Começo este texto apresentando a letra da melodia composta por Chico Buarque de Holanda e Edu Lobo, “Ciranda da Bailarina “:

Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Verruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem
Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem
Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem
Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelha
Bigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem
O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem
Procurando bem
Todo mundo tem...

Parece-me que os autores foram muito felizes ao expressarem aquilo que a psicanálise denomina de “Eu Ideal” e “Ideal do Eu “” e que se relaciona diretamente com a questão da prospectiva, objeto desta análise .
O Eu Ideal se configura como uma dimensão imaginária, limitada e idealizada e confere ao sujeito uma sensação de onipotência. É o que acontece com a bailarina, metáfora do Eu Ideal, personagem que não tem defeitos, problemas, doenças, etc... O Eu Ideal não existe e jamais existirá. Está na categoria do sonho. Se nos deixamos subjugar por ele caímos na frustração, da ilusão.
Já o Ideal do Eu se configura na dimensão da razão e se refere ao comportamento humano relacionado às expectativas relacionadas ao sujeito, ou seja: _ o que se espera dele ? Nesta perspectiva, cada um de nós se compromete, durante a vida, a ser/fazer/cumprir determinadas demandas que vêm dos outros, a fim de que possa se sentir amado e reconhecido socialmente. Nenhum de nós é como a personagem da bailarina, disso temos certeza, pois temos consciência de nossos problemas e dificuldades. O Ideal do Eu possibilita a compreensão de que ninguém é melhor do que ninguém e nos permite lidar com as diferenças.

Isso nos remete ao conceito de prospectiva explicitado por Wong como :
premissa segundo a qual o futuro não é algo único e previsível, pelo contrário, é um espaço aberto onde se pode construir la vontade do homem”.


Tal conceito demonstra claramente que é o homem quem maneja a prospectiva de maneira ativa, quem pode planejar seu futuro por meio das funções psicológicas superiores descritas por Vygotsky: a antecipação e a evocação , que permitem a construção das categorias temporais de passado, presente e futuro.

Quando se lida com a prospectiva desta maneira há a superação da imaginação contida num Eu Ideal , do determinismo de perfeição narcísica do qual fomos investidos pelas figuras parentais e o Ideal do Eu põe em jogo a razão capaz de delinear cenários para o futuro como um devir, como um vir a ser, que poderá acontecer ou não de acordo com nossas atitudes, mas que contém em si o desejo de construir o melhor futuro possível.

Isso nos leva a pensar no conceito de cenário, também trabalhado por wong. Segundo este autor, “cenário” é um aspecto criativo e engenhoso da realidade, mas não comporta a realidade em si mesma. Quando se trabalha com cenários a pergunta que se faz é a seguinte: _ “o que aconteceria , se... “ Isso nos leva a concluir que se trata de uma antecipação racional, baseada em hipóteses, as quais poderemos ou não comprovar segundo as experiências levadas a efeito.

Daí a questão objeto do título deste trabalho se apresenta : Existem cenários ideais , ou cenários possíveis na EAD?

Penso que, caso trabalhemos com cenários ideais, caímos na frustração e na ilusão da metáfora da bailarina para o Eu Ideal.

Precisamos, portanto, pensar em cenários possíveis, de tal maneira que o futuro seja pensado e planejado para que possa acontecer, não de forma determinada, mas sob nossa participação ativa.

Um cenário ideal seria aquela situação na qual existisse a plataforma perfeita, onde teríamos uma interação on line imediata com os alunos, os quais cumpririam todos os prazos agendados e participariam dos fóruns de discussão de maneira ativa e pró-ativa. Um cenário no qual o tutor trabalharia com apenas 30 alunos por turma ( aqui no Brasil há turmas de 300 alunos por tutor ), possibilitando uma relação mais subjetiva e amorosa entre este profissional e seus alunos.

Já um cenário possível, levando em conta a prospectiva tal qual formula Wong, precisa considerar que as plataformas existentes ainda não são perfeitas, mas estão em processo contínuo de aperfeiçoamento, sobretudo aquelas de código aberto, nas quais a colaboração dos usuários é considerada nas mudanças efetuadas.
Outro aspecto relevante diz respeito à formação dos profissionais que atuam nesta modalidade de ensino. A cada dia os cursos de formação de tutores, autores e demais profissionais envolvidos na EAD ampliam as oportunidades de educação continuada.
Um cenário possível precisa considerar ainda a expansão da demanda por cursos on line que utilizam os recursos da Web 2.0.

Por tudo isso, em minha realidade, projeto para o futuro melhorar cada vez mais a minha atuação profissional em EAD,aplicar em meu trabalho os conhecimentos adquiridos nos cursos que tenho tidfo a oportunidade de realizar  e colaborar com a comunidade acadêmica acrescentando com minhas práticas informações para que possam vir a ser relevantes para seu progresso e desenvolvimento.

BIBLIOGRAFIA:

LACAN, J. “O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu”. In: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
WONG, Miguel Angel Pérez. ¿ Que Es La Prospectiva ? Del mito a la realidad sobre la construcción del futuro. In http:// nodofuturomexico.org/revista/numero 203/contenedor.html.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem, São Paulo : Martins Fontes, 1987.

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