Há algum tempo atrás ( que não é muito) se me perguntassem se era favorável à educação a distância, dizia categoricamente: _ não !
Como a vida é feita de mudanças, hoje coordeno um projeto de formação continuada de profissionais a distância e sempre me pergunto : _ o que mudou mais: a realidade educacional ou minha postura diante da EAD ?
A Psicopedagogia me ensinou que a escrita é a melhor maneira de tornar visível os pensamentos e por isso aventuro-me a escrever uma série de artigos a respeito desta nova realidade - a educação a distância - e das possibilidades de atuação psicopedagógica nesta área.
Inicialmente preciso explicitar o que me levava a ser contrária a esta modalidade de ensino/aprendizagem e quais foram os preconceitos que precisei superar:
- a EAD é uma modalidade “menor”do que a modalidade presencial de ensino/aprendizagem;
- a EAD não se adapta aos diversos conteúdos curriculares, mas apenas a alguns, mais teóricos;
- a Psicopedagogia não pode usar a EAD como estratégia de ensino/aprendizagem porque a formação do psicopedagogo exige a presença física em virtude da necessidade de se estabelecerem relações subjetivas entre o professor e os alunos;
- Supervisão psicopedagógica em EAD é impossível porque a presença física do supervisor junto ao supervisando é fundamental;
Estas concepções foram se transformando a partir de 1996 quando comecei a me expor na internet por meio de um web site criado por meu filho, estudante de engenharia de telecomunicações, num espaço livre de hospedagem chamado geosites.
Comecei a receber uma série de mensagens de estudantes e outros profissionais da Psicopedagogia e um intenso regime de trocas se estabeleceu entre nós. Naquela ocasião eu me encontrava frequentando o curso de formação em psicopedagogia clínica mantido por Alícia Fernández em Belo Horizonte e como lhe disse numa oportunidade, o curso mexeu tanto comigo que “desandei “a escrever e me autorizei a publicar. O portal Psicopedagogia On Line já existia naquela época e conheci Maria Alice Leite Pinto, sua diretora, em reuniões do Conselho Nacional da ABPp nascendo entre nós um clima de muita cooperação e amizade que perdura até hoje. Com meu site e os artigos publicados no portal fui me tornando conhecida entre os novos argonautas do presente : os internautas.
Como consequência desta exposição na Web me deparei com as dificuldades que as pessoas tinham em relação a alguns conteúdos psicopedagógicos, tais como os procedimentos de diagnóstico e comecei a mandar material para algumas colegas com as quais me correspondia. Daí para criar um curso sobre este assunto, foi um “pulo “: estruturei um curso de diagnóstico psicopedagógico on line em 10 “lições “e passei a disponibilizá-lo num grupo de discussões sobre psicopedagogia fundado naquela ocasião e que existe até hoje no endereço http://br.groups.yahoo.com/group/aprender-ai/ .
A partir desta experiência minhas percepções a respeito da EAD e seu uso na Psicopedagogia foram se alterando paulatinamente. Percebi desde logo que havia nesta modalidade um enorme potencial a ser explorado, expresso nas carências de informação numa área ainda pouco conhecida no Brasil. Havia também algo mais, apesar de menos palpável : um grande desejo de cooperar com aquelas pessoas, de compartilhar o que eu havia aprendido durante minhas vivências como psicopedagoga desde 1981,quando comecei a atuar numa clínica multidisciplinar em Niterói, Rio de Janeiro onde residia naquela época.
No grupo de discussão pela internet fiz amizades. Para não correr o risco de negligenciar alguns nomes, cito apenas dois: João Beauclair e Rita Hule. Com eles aprendi que podíamos estabelecer relações afetivas mesmo com um espaço geográfico enorme nos separando.
Isso fez com que me reportasse a Paulo Freire. Quando eu o li pela primeira vez, uma frase me marcou profundamente: " A relação pedagógica é uma relação amorosa". Eu sempre a repito para mim mesma e não perco a oportunidade de praticá-la e de divulgá-la. Penso que é a mais perfeita descrição do que deve acontecer na sala de aula, seja real ou virtual. Acredito que Paulo Freire se referia à fraternidade que deve unir os homens, à atenção que precisamos dar a todos que nos ouvem,procuram,que esperam de nós alguma coisa quando estamos desempenhando a função docente. Só o ser humano é capaz de amar, só o ser humano é capaz de sentir as emoções autênticas de forma consciente:medo, alegria,raiva,tristeza e amor Os objetos não têm esta possibilidade. E, muitas vezes, os professores olham para seus alunos como se fossem objetos. Esquecem-se de que eles sentem!Quantas tristezas passam pela sala de aula sem ser percebidas.... quanta raiva é reprimida.... quanto medo é reprovado... quanta alegria é contida... quanto amor é suprimido em nome da eficiência pedagógica.
A partir desta constatação, continuei investindo nos relacionamentos que mantinha pela internet, continuei escrevendo e tentando estabelecer relações amorosas mesmo a distância e percebendo que podia faze-lo mesmo sem estar fisicamente diante do outro.
Foi então que , estando conectada, recebo um chamado de Maria Alice, pelo computador. Ela começa a conversar comigo sobre alguns planos que tinha para o portal e marcamos de nos falarmos por telefone à noite daquele mesmo dia. Em decorrência da conversa agendamos um encontro em SP para discutirmos idéias sobre a oferta de cursos a distância, em parceria. Nascia o EducEAD – cursos a distância nas áreas de educação e saúde – www.educead.com.br. O primeiro curso que oferecemos foi justamente aquele que eu já mantinha há alguns anos : diagnóstico psicopedagógico. Porém, a tecnologia agora mais avançada já permitia que utilizássemos uma plataforma virtual para realizar as atividades e o material agregou recursos visuais e auditivos que possibilitaram o enriquecimento dos conteúdos e facilitaram sua apreensão por parte dos cursistas.
Comecei a me interessar por aprender sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação na EAD, busquei cursos para me instrumentalizar como tutora e autora de material on line, frequentei congressos e seminários para me aperfeiçoar para o trabalho.
Hoje, uma certeza guardo comigo. O que me afastava da EAD era o desconhecimento, foco de todos os preconceitos. Tenho a certeza de que podemos usar os recursos da Web para a transmissão do conhecimento , inclusive o psicopedagógico. Compreendo também que a escola não corre o risco de desaparecer com a EAD, mas sim de ampliar seus espaços para “mares nunca dantes navegados”. Sinto em meu íntimo a assertiva de Paulo Freire e procuro estabelecer com meus alunos a amorosidade necessária a toda relação pedagógica. Como faço isso pretendo expor no próximo artigo,. Se quiser saber como faço o que faço, aguarde a próxima publicação.
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